domingo, 28 de junho de 2009

"Ler é viajar no mundo que mora dentro das palavras."

http://www.youtube.com/watch?v=J-xzVXVTMns
TRAZENDO A LITERATURA INFANTIL PARA AS AULAS DE MATEMÁTICA
As Centopeias e seus sapatinhos
Milton Camargo, Editora Ática, 1992, 15ª edição
Indicado para 1º e 2º ano

O livro conta a história de uma Centopeinha que sai com sua mãe para comprar sapatos.
Chegando à loja elas são recebidas pela vendedora Joaninha. A Centopeinha pede um sapato vermelho. Joaninha sobe e desce as escadas várias vezes para trazer os pares de sapatos à Centopeinha. Depois de colocados todos os sapatos a Centopeinha percebe que eles estão apertados.
Ela pede à Joaninha para trazer um número maior e lá vai a Joaninha, sobe e desce, sobe e desce... e quando traz o último par de sapatos não tem mais forças nem para se levantar.
Dona Centopéia pega os sapatos e diz à Joaninha que ela está muito cansada e que outro dia voltará para comprar mais sapatos. Joaninha, depois de tantos esforços, desmaia.

Ao trabalhar com esta história o professor poderá abordar idéias relativas à correspondência um a um, par ou ímpar, adição, subtração etc.

SUGESTÕES DE TRABALHO

O professor pode ler a história com as crianças e pedir para que elas desenhem a parte que mais gostaram. Depois do desenho, é possível problematizar:

· Alguém já viu uma centopeia? Como ela é?
· Quantos pés tem a centopeia?
· Quantos bolinhos você acha que tinha na mesa do café? Desenhe.
· Quantos chapéus e sombrinhas pegaram a Centopeia e sua filha?
· Quantas vezes você acha que a Joaninha subiu e desceu a escada para pegar os sapatos?
· Quantos pares de sapatos a Centopeinha experimentou?
· Quantos pares de sapatos a Centopeinha usa de cada lado do corpo?
· Que número, você acha que calça a Centopeinha? Nesse caso, de que número poderia ser o primeiro par de sapatos que a Joaninha trouxe?
· Por que os fabricantes de sapato colocam um par de sapatos em cada caixa?
· Se você fosse um fabricante de sapatos para centopeias, você colocaria um par de sapatos em cada caixa?
· No caso desta história, quantos sapatos para centopeias deveriam ser colocados em cada caixa para evitar o sobe e desce de Dona Joaninha?

Como é possível notar, os professores que utilizam literatura regularmente têm em suas mãos um contexto significativo e natural para encorajar os alunos a falarem e escreverem sobre matemática.
Vale observar, porém, que não pretendemos subjugar o uso da literatura infantil na escola à exploração matemática. É fundamental que não esqueçamos o valor primeiro da literatura infantil, ou seja, despertar o prazer de ler.

* Esse texto foi originalmente publicado no livro “Era uma vez na matemática; uma conexão com a literatura infantil”, do Instituto de Matemática e estatística da US, escrito com a colaboração de Glauce Helena Rodrigues Rocha, Patrícia Terezinha Cândido e Renata Stancanelli, reproduzida na Revista AMAE educando.

MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA, Ana Maria Machado, Ed. Ática - ilustrações de Claudius.
Era uma vez uma menina linda, linda.Os olhos pareciam duas azeitonas pretas brilhantes, os cabelos enroladinhos e bem negros.
A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva.
Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laços de fita coloridas. Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do Reino do Luar. E, havia um coelho bem branquinho, com olhos vermelhos e focinho nervoso sempre tremelicando.
O coelho achava a menina a pessoa mais linda que ele tinha visto na vida. E pensava:
- Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que nem ela...Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
­- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...
O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela. Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o seu segredo para ser tão pretinha?A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.
O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi. Mas não ficou nada preto.
- Menina bonita do laço de fita, qual o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:­
- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.
O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito cocozinho preto e redondo feito jabuticaba. Mas não ficou nada preto.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha...
Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos.E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.
Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça.Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha. Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao lado.
E quando a coelhinha saía de laço colorido no pescoço sempre encontrava alguém que perguntava:
- Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
E ela respondia:
- Conselhos da mãe da minha madrinha...

Patativa do Assaré

Cantando em verso e prosa Poeta niversitaro, Poeta de cademia, De rico vocabularo Cheio de mitologia, Tarvez este meu livrinho Não vá recebê carinho, Nem lugio e nem istima, Mas garanto sê fié E não istruí papé Com poesia sem rima. Cheio de rima e sintindo Quero iscrevê meu volume, Pra não ficá parecido Com a fulô sem perfume; A poesia sem rima, Bastante me disanima E alegria não me dá; Não tem sabô a leitura, Parece uma noite iscura Sem istrela e sem luá. Se um dotô me perguntá Se o verso sem rima presta, Calado eu não vou ficá, A minha resposta é esta: — Sem a rima, a poesia Perde arguma simpatia E uma parte do primô; Não merece munta parma, É como o corpo sem arma E o coração sem amô. * * * * * * * * * Patativa do Assaré

sábado, 27 de junho de 2009

Uma ideia toda azul

Um dia o Rei teve uma ideia. Era a primeira da vida toda, e tão maravilhado ficou com aquela ideia azul, que não quis saber de contar aos ministros. Desceu com ela para o jardim, correu com ela nos gramados, brincou com ela de esconder entre outros pensamentos, encontrando-a sempre com igual alegria, linda ideia dele toda azul. Brincaram até o Rei adormecer encostado numa árvore. Foi acordar tateando a coroa e procurando a ideia, para perceber o perigo. Sozinha no seu sono, solta e tão bonita, a ideia poderia ter chamado a atenção de alguém. Bastaria esse alguém pegá-la e levar. É tão fácil roubar uma ideia. Quem jamais saberia que já tinha dono? Com a ideia escondida debaixo do manto, o Rei voltou para o castelo. Esperou a noite.Quando todos os olhos se fecharam, saiu dos seus aposentos, atravessou salões, desceu escadas, subiu degraus, até chegar ao Corredor das Salas do Tempo. Portas fechadas, e o silêncio. Que sala escolher? Diante de cada porta o Rei parava, pensava, e seguia adiante.Até chegar à Sala do Sono. Abriu.Na sala acolchoada os pés do Rei afundavam até o tornozelo, o olhar se embaraçava em gazes, cortinas e véus pendurados como teias.Sala de quase escuro, sempre igual.O Rei deitou a ideia adormecida na cama de marfim, baixou o cortinado, saiu e trancou a porta. A chave prendeu no pescoço em grossa corrente.E nunca mais mexeu nela. O tempo correu seus anos.Ideias o Rei não teve mais, nem sentiu falta tão ocupado estava em governar. Envelhecida sem perceber, diante dos educados espelhos reais. Que mentiam a verdade.Apenas, sentia-se mais triste e mais só, sem que nunca mais tivesse tido vontade de brincar nos jardins. Só os ministros viam a velhice do rei. Quando a cabeça ficou toda branca, disseram-lhe que já podia descansar, e o libertaram do manto. Posta a coroa sobre a almofada, o rei logo levou a mão a corrente. —Ninguém mais se ocupa de mim—dizia atravessando salões e descendo escadas a caminhos das Salas do Tempo —ninguém mais me olha.Agora posso buscar minha linda ideia e guardá-la só para mim. Abriu a porta, levantou o cortinado. Na cama de marfim, a ideia dormia azul como naquele dia. Como naquele dia, jovem, tão jovem, uma ideia menina. E linda. Mas o rei não era mais o rei daquele dia. Entre ele e a ideia estava todo o tempo passado lá fora, o tempo todo na sala do sono. Seus olhos não viam na ideia a mesma graça. Brincar não queria, nem rir.Que fazer com ela? Nunca mais saberiam estar juntos como naquele dia. Sentado na beira da cama o rei chorou suas duas últimas lágrimas, as que tinham guardado para a maior tristeza. Depois baixou o cortinado, e deixando a ideia adormecida, fechou para sempre a porta.


Marina Colasanti